sexta-feira, 23 de outubro de 2009

De gorilas e baleias

Meu processo evolucionário de despir-me da mulher gorila continua.
Agora trabalho arduamente para transformar-me em uma legítima e autêntica mulher baleia. Até faço parte de um grupo de baleias, que se reúne de forma caoticamente organizada, mais ou menos a cada 15 dias. Como somos modernas, temos baleias espalhadas por todo globo, em suas próprias rotas migratórias que não necessariamente obedecem à do grande grupo mas que com ele estão sempre conectadas. Temos baleias no cerrado brasileiro, baleias no velho mundo, baleias na garoa de São Paulo.
O nome escolhido para esta pequena e intensa confraria feminina causa espécie. Já me perguntaram diversas vezes se serão baleias porque todas são gordas? Hahahahaha. Como se importasse!
Mas respondo que não, não são gordas.
São lindas, amáveis, companheiras e operam pelo bem comum, por isso são baleias.
Fiquei sabendo que os cetáceos, baleias e golfinhos entre eles, cantam pela cura do planeta e pela manutenção do equilibrio (esta colocação faz parte da sessão acredite se quiser, por isso não me torre a paciência!). Dai que me ponho a pensar, assim, no inglório trabalho desses paquidermes marinhos.
Sabemos hoje que baleias como as orcas, topo de cadeia alimentar, encontram-se todas fortemente contaminadas por PCBs e outros venenos artificiais ou não, que a humanidade cria e despacha para o ambiente natural. Como o mar aceita todos os lixos, que indo a fundo não se tornam visíveis, sinceramente me preocupo com o destino dessas amigas baleias e penso na tremenda caridade que desenvolvem ainda se preocupando conosco.
Outra descoberta não menos alarmante é o fato de que as baleias (marinhas, não as amigas) estão surdas! Considerando a relevância da audição desses animais para a alimentação e procriação, pela manutenção das rotas migratórias, a significativa perda de mais de 50% da audição pode levar ao extermínio destes animais antes das causas mais diretas e presumíveis.
O que me faz lembrar da sequencia inicial do filme/livro O Guia do Mochileiro das Galaxias. Cansados de toda essa papagaiada humana, os golfinhos, frente à iminente destruição da Terra, resolvem fazer o que ja deveriam ter feito há tempos: se mandar!!
Ao menos em terra firme, a situação das baleias não está tão negra. Ou surda.
As baleias daqui continuam cumprindo com seu papel. Pelo menos em socorro uma das outras. E em auxilio das crias que arrisco dizer, agora são do grupo. E de forma alguma estão surdas!
Mas a introdução sobre as baleias veio, em realidade, para que eu apresentasse outra questão. No inicio deste mês foi a minha oportunidade de receber essa manada de cetáceas. Como a cada encontro uma de nós abre a casa, o coração e a cozinha, resolvi fazer o que de melhor uma baleia pode oferecer - ok, o quê de segundo melhor, pois estavamos em falta de kril : fez-se peixe então!!
Pra mim, ao menos, foi muito especial. Além de me envolver direta e exclusivamente na compra e confecção de todos os pratos: desde a feira orgânica do Bom Fim , sábado pela manhã - e só eu sei o sacrifício que foi sair da cama cedinho após a ótima noite de sexta, até a ida ao mercado público (baleias modernérrimas), para a compra das anchovitas e dos limões,até passar no super e dali sair a tiracolo com um saco de carvão e uma garrafa de Ypioca orgânica (em plena segunda-feira), foram vários momentos que culminaram com o fogo da churrasqueira e a caipirinha gelada. All by myself !! (sem a choradeira da música). E para receber minhas queridas e seus filhotes, que a seu turno, fizeram a alegria do meu pequeno baleio.
As baleias, por óbvio, responderam à altura meu carinho: devoraram, com carinho e muita classe, cada pedacinho de peixe, cada folhinha de salada, o chutney de laranjinha calcado no gengibre, com direito a chupar os olhinhos dos peixes e lamber os beiços depois. Grata queridas pelo amor baleistico devotado por cada uma. E mais, comprovando que de surdas tem é nada, cada uma se revezou entre o papel de contadora e o papel de ouvinte.
Mais um passo da minha jornada rumo à evolução de mim!
Se antes ja havia sacado fora as mãos da gorila, com essa, agora, tirei de vez a cabeça.
O mais hilário de tudo é que, quanto mais caminho em direção da evolução (da gorila pra baleia), mais retomo os antigos ritos : a transmutação pelo fogo, a celebração pela comida, a força pela união.
Nossos ancestrais deram seu primeiro passo em direção à humanidade ao dominar o fogo.
Hoje, dou meu primeiro passo rumo a uma nova humanidade, figurativamente dominando o fogo!
Nada mudou ou tudo mudou tanto que parou, novamente, no mesmo lugar?
Será a reinvenção da espécie?
Notaram que Dietrich parece a Maddona?
No meio do fogo cerrado, saco fora minha cabeça-gorila, coloco minha peruca e começo a nadar em direção ao grupo.
So long and thanks for all the fish!


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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Oroborus Feminino

Vou retomar o assunto.
Ele não me permite o abandono no passo que não consigo compreendê-lo.
E olha que penso, teorizo e comento, muito - muito mais do que deveria, creio eu.
Ocorre que toda vez que ele se apresenta, me fixo muito mais em meu assombro por, mais uma vez, me pegar desprevenida  no turbilhão da discussão, do que no assunto em si.
Ligar ou esperar que ligue?
Mandar e-mail? Não/sim?
E sexo? Talvez.

Na primeira? Na segunda (mas tem segunda sem sexo na primeira)?
Nenhuma das alternativas abaixo/Todas as alterantivas acima!!
É sério. Eu não acredito! Não acredito que isso ainda renda.
Não acredito, e tanto que não acredito que estou escrevendo sobre isso. Ok, entendeu né.
Nós mulheres ja fizemos de tudo: desde a revolta contra os espartilhos, a cruzada dos manjados sutiãs,  até a denuncia do assédio sexual e o cargo supremo  na diretoria das transnacionais.
Criamos os filhos sozinhas, somos os homens da casa, matamos os 12 trabalhos de Hércules num dia.
Mas ainda passamos incontaveis minutos debruçadas na torre, penteando o cabelo e pensando no telefonema, no torpedo, no twitter, no facebook e escambau e sim, no cavalo branco também (que não precisa, em absoluto, ser branco). E o que é pior:  na cabeça travando o diálogo tão velho quanto Eva (a qual, tenho por certo, foi  precurssora desta preocupação tão significativamente feminina: no dia em que viu o segundo homem do mundo, provavelmente pensou : humm, ofereço a maçã, ou espero que ele peça um pedaço ?
Enquanto ainda teorizamos e nos importamos com esse assunto, mantemos as coisas exatamente iguais, nos aprisionando num dialogo que somente é travado no mundo feminino.
Não creio que os homens pensem assim. Ou percam (ou invistam) tempo com esse assunto. Acredito que na bioquímica masculina a questão se apresenta muito mais em termos de aceleração rumo ao desafio da conquista do que propriamente afeiçoar-se ou não à dita cuja do momento.
Os homens estão no mesmo lugar que ocuparam quando Ardi ainda circulava pelo mundo. Um pouco sacudidos a bem da verdade, mas nós é que nos deslocamos, mudamos, aperfeiçoamos....e mesmo assim paramos quase no mesmo lugar.
Por favor, não me entenda mal. Não sou a favor de colocar a coisa como mundo das mulheres ou mundo dos homens, só acho que somos diferentes e nessas diferenças nos perdemos nos discursos e ações de gênero, perdendo o que de melhor podemos fazer que é entregarmo-nos, suave e tranquila doação de carne, de sentido, de querer, de afeto e encontro.
A prisão ao padrão esta em nós mulheres quando ao pretender a liquefação da contemporaneidade, contraditoriamente esperamos uma resposta antiga. Uma resposta individualizada. Uma resposta única, diferente, que corresponda à entrega.
Só que não há entregas. Se só podemos dar o que efetivamente for nosso, arrisco dizer que não nos temos!
Avançamos tanto para fora de nós mesmas que nos desencontramos de nós e a cada dia atendemos a expectativas que também estão fora de nós. Somos prisioneiras desta imagem holográfica de posturas e padrões cheia de significações tão estranhas. É o debate interminável, o nosso oroborus particular de gênero. Sempre recorrente, é o assunto serpente que devora a si mesmo. Se engole e se regorgita.
Mesmo cientes de que somos mais  do que jamais fomos.
Por que somos mulheres, porque é sexo, porque é desejo. Por que assusta, por que atrai. Porque deixamos as cavernas e alto das arvores faz tempo.
Por que ainda usamos sutiãs!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ground control to major tom

Esta em estréia um filme que quero ver.
Ok, eu sempre quero ver filmes. Adoro cinema, tv e qualquer coisa que se mexa na tela, telinha, telão. Sou espectadora sem filtro!!
Mas me refiro ao Distrito 9. Além da produção do Peter Jackson, além dos alienígenas, dois fatores que ja me fariam ficar muito a fim, a trama se aproxima de um tema sobre o qual tenho pensado nos últimos anos: o da retirância  galática. Ou refugiados galaticos ou algo semelhante. Não conseguem voltar para seu planeta.
Imaginem se a moda pega?
Ou se pior, o Conselho Galáctico Universal começa a separar o joio do trigo e a despejar aqueles inquilinos indesejavéis, queimadores de recursos universais, senhores Sujo do Universo.
Me arrisco a sugerir que nosotros, los terráqueos, seriamos uns dos primeiros, pelo menos neste quadrante da Via Láctea, a receber o bilhetinho todo azul de despedida: 30 dias para a desocupação voluntária sob pena de desmaterialização e despejo!! 
Haveriam precedentes para nossa defesa, minorantes, excludentes de culpabilidade? Hummm, num creio não!
Somos irresponsáveis, malcriados, egoistas e sujos muito sujos. O planeta Terra hoje se encontra envolto em uma nuvem de lixo espacial, satélites, sondas, em grande número inúteis e ultrapassados só aguardando seu apodrecimento na estratosfera.
Segundo a Nasa, os objetos estão representados em um tamanho exagerado para demonstrar o grande volume de satélites que foram lançados desde a Guerra Fria, quando os Estados Unidos e a então União Soviética disputavam a conquista do espaço.

Fiquei atônita quando me informaram - valeu Discovery History!! - que até 1957, inexistia qualquer satelite artificial orbitando em torno da Terra (sim, era só ter pensado um pouco e ligado o lé com cré. Antes do Sputnik, nada havia).Essa massa de lixo espacial que orbita o planeta como moscas na shit, se multiplicou exponencialmente nos últimos 50 anos. Sequelas da guerra fria. Ressaca moral que pretendemos curar com mais do mesmo.
Hoje, até garotos de universidade colocam seus próprios satélites em órbita, ao custo reduzido de 20 mil dólares. Mais lixo, tudo por um pedaço da bunda da Daryl Hannah (desculpe Wander, mas essa é impagável), tomando sol em Malibu!! É a nova onda: o reallity espacial.
Será que quando despejados, seremos aceitos em outro planeta? Alguém nos dará abrigo? Ou estamos destinados a vagar pelo universo até que nossas pilulas alimentícias acabem e o combustivel de nossa nave termine?
Me tirem o tubo antes de 2012!!









 A NASA acredita que existam cerca de 18 mil objetos ao redor da Terra, incluindo satélites ativos e inoperantes.








A canja sonora/teclada da semana, vai pra amiga de nave-mãe, ClaraIsse:


"Ground control to Major Tom Ground control to Major Tom:

Take your protein pills and put your helmet on
Ground control to Major Tom: Commencing countdown engine's on
Check ig-nition and may God's love be with you


This is ground control to Major Tom, you've really made the grade!
And the papers want to know whose shirts you wear,
Now it's time to leave the capsule if you dare


This is Major Tom to ground con-trol, I'm stepping through the door
And I'm floating in the most peculiar way
And the stars look very difeerent today


For here am I sitting in a tin can, far above the world
Planet Earth is blue and there's nothing I can do


BRIDGE


Though I'm passed one hundred thousand miles, I'm feeling very still
And I think my spaceship knows which way to go,
tell my wife I love her very much she knows


Ground control to Major Tom:
Your circuit's dead, there's something wong.
Can you hear me Major Tom?
Can you hear me Major Tom?
Can you hear me Major Tom? Can you ...


Here am I floating round my tin can, far above the moon
Planet Earth is blue and there's nothing I can do"
(Bowie)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sequestraram o seu carbono!!!

Sequestraram o 'seu' Carbono e não contentes, ainda fraudaram o fisco!
A nova ordem no terreno do crime organizado mundial é verde! Como não poderia deixar de ser , os mafiosos estão super atualizados com as novas tendencias econômicas mundiais e tambem fazem seu lobby ambiental. A mais nova seara de interesse deste gatunos de elite é o mercado de carbono ou mercado de créditos florestais de carbono.
O dióxido de carbono, gás poluente, é emitido pela queima de combustíveis fósseis (além de ser liberado pela nossa respiração) e como elemento poluente  requer regulamentação - desde que a humanidade se apercebeu da grande fria que havia entrado ao liberar toneladas de CO2 na atmosfera sem controle algum e por meio de políticas e mecanismos internacionais, como o Protocolo de Quioto, passou a regrar sua emissão. Este estatus faz da permissão para produzi-lo uma mercadoria que pode ser negociada como ouro, petróleo ou soja.





O comércio de autorizações de CO2 cresceu exponencialmente desde que a União Europeia passou a exigir que milhares de empresas passassem a limitar suas emissões dentro de metas específicas. Quem ultrapassa o teto pode comprar créditos de empresas que se mantiveram abaixo da meta- o preço médio para a emissão de uma tonelada de carbono está em US$ 15.
No final do mês passado, a  menos de meio ano da Convenção de Mudanças Climáticas, a se realiza em Copenhague, em dezembro, soou o primeiro alerta, dado por um especialista em crimes ambientais da Interpol, Peter Younger, ao explicar o funcionamento do mercado para os créditos relativos à preservação e recuperação florestal, já que as matas absorvem gases do efeito estufa quando estão vivas, e liberam carbono quando são abatidas.
Se você vai comercializar qualquer 'commodity' no mercado aberto, está criando uma situação de lucro e prejuízo. Haverá um comércio fraudulento de créditos de carbono. No futuro, se você está administrando uma fábrica e precisa desesperadamente de créditos para compensar suas emissões, haverá alguém que poderá fazer isso acontecer para você. Absolutamente, o crime organizado estará envolvido.
Possíveis fraudes incluiriam a reivindicação de créditos por florestas inexistentes ou desprotegidas. Começa com suborno e intimidação de autoridades que podem impedir seu negócio. Aí, se houver nativos envolvidos, há ameaças e violência contra essas pessoas. Há documentos forjados, acrescentou ele. Younger disse ainda que o desmatamento ilegal é um problema significativo e crescente, e que as mesmas redes que contrabandeiam madeira também podem ser usadas para o tráfico de mulheres e crianças, drogas, armas e espécies vivas. De acordo com ele, há sinais de que o comércio madeireiro ilegal alimenta conflitos armados.


Nem bem Younger havia concedido esta entrevista à Reuters, eis que no dia 19 último, agentes alfandegários prenderam nove pessoas na região de Londres, sob a suspeita de uma fraude de vários milhões de dólares no comércio de autorizações para emissão de carbono. As prisões confirmaram temores de que estelionatários - operando nos pregões da Europa e nas florestas tropicais - estão sendo atraídos para um mercado que já movimenta mais de US$ 100 bilhões.
Uma força de 130 agentes alfandegários britânicos, averiguaram 27 imóveis da região londrina com base em evidências de uma "fraude carrossel" que, acredita-se, roubou 38 milhões de libras, ou US$ 68 milhões, dos cofres públicos, em impostos sonegados. Sete homens e duas mulheres foram presos.
A porta-voz alfandegária, Sara Gaines, disse que esta foi a primeira vez em que a fraude foi descoberta no mercado de carbono, expandindo-se dos campos da telefonia móvel e dos chips de computador.

Não existe bem que não possa ser comercializado. Se pode ser comprado ou vendido , pode ser roubado, fraudado, clonado...É um prato cheio para o Brasil. No quesito florestas produtoras de oxigênio estamos 10. No quesito pirataria, também! Desmatamento ilegal, ô nem se fale. Suborno, intimidação de autoridades e pelas autoridades, violência pessoal ? Presente. E acrescente ai, escravidão, miséria e muito, mas muito jeitinho. Imaginem só que precedentes.
Mas assim caminha a humanidade não é? A cada regulamentação de uma nova atividade humana, pelo mercado e pelo Estado, surgem mil maneiras de fazer o velho neston e burlar as normas. As possibilidades são exponenciais.
O mercado de carbono vai ficar muito maior  se e quando o Congresso dos EUA aprovar seu próprio mecanismo de metas e comércio. E crescerá mais ainda se o novo acordo da ONU para a mudança climática vier a prever incentivos financeiros para que países tropicais protejam suas florestas.
Aqui, na terra donde se plantando tudo dá, andamos, como sempre, na contramão : ao invés de discutirmos mecanismos de operação desta commodity ambiental nos mercados,  regramentos para a comercialização e proteção de produtores, optamos por dar asas à bancada ruralista, com a conivência do governo federal, e colocar em pauta e em ritmo acelerado propostas que põem em sério risco as principais leis brasileiras, em especial a que regulamenta o controle do desmatamento em todos os Biomas . Ressalte-se que o desmatamento é responsável por mais de 50% das emissões brasileiras de carbono.
Os Projetos de Lei  (PL 1876/99 e 5.367/09) pretendem revogar ou modificar as principais Leis ambientais brasileiras, como o Código Florestal brasileiro, a Lei de Política Nacional de Meio Ambiente, a Lei de Crimes e Infrações contra o Meio Ambiente e a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Os principais instrumentos de gestão ambiental em vigor como a criação de unidades de conservação, as reservas florestais legais, as áreas de preservação permanente, o licenciamento ambiental, o Conselho Nacional de Meio Ambiente poderão ser revogados ou enfraquecidos para atender exclusivamente, por encomenda setorial, os ruralistas.
Já que o verde é o new black, me preparo equanto espero o momento em que virão sequestrar o carbono que minha respiração larga no ar.


"Esse silêncio todo
Me atordoa
Atordoado
Eu permaneço atento
Na arquibancada
Prá a qualquer momento
Ver emergir
O monstro da lagoa..."
Composição: Chico Buarque e Gilberto Gil


Fontes:
Estadão Online,
Aliança BECE-RECOs / Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras (in Nota das Ongs contra revogação da legislação ambiental brasileira, à qual manifesto apoio e divulgo),
Ambiente Brasil.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ardi bits Lucy - adeus gorilas, chipanzés e afins!!

Sempre me considerei uma mulher à frente de meu tempo (e humilde, por suposto), mas assim já é demais. Nem bem anunciei que deixaria meu gorila pra trás, a ciência endossa o ritual de renascimento comprovando que o nossa espécie , ou pelo menos os precursores dela, fez a mesma coisa há mais ou menos 4.4 mihões de anos atrás.


Assim, a mais nova tataravó da humanidade, Ardi, bateu Lucy em aproximadamente 1 milhão de anos, corroborando a tese de que há muito os primatas não pode ser culpados por nossos desatinos.
Ardi, cuja ossada foi achada na Etiópia, não é, ainda, o ancestral comum. Ela já era representante da ramificação entre hominideos e primatas. Incrivel isso: 4.4 milhões de anos não foram suficientes para que parássemos de agir como bestas e passássemos ao próximo degrau evolucionário de consciência. Chega a ser hilário se não considerarmos que estamos falando de nossa própria história e dos rumos que ela esta tomando (sim, a tragedia dos outros é, por vezes, engraçada).
Mas não podemos dizer que as coisas não mudaram. Pelo menos no universo feminino. Ardi e Lucy se degladiam pra ver quem é mais velha. No caso destas avós da humanidade, o estatus está vinculado à anterioridade, leia-se idade: quanto mais velha, melhor! No ocidente da atualidade a premissa é inversa: as netas investem tempo, vida e dinheiro tentando parecer mais jovens. Há uma tremenda depreciação da anterioridade e uma desesperada obsessão psicótica coletiva por parar o tempo e o envelhecimento.
Eu mesma, ex-mulher-gorila-inteligente quase desmaiei semana passada quando, em um agradável boteco do Centro da cidade, o garçom se dirige a mim e a minhas amigas com a fatidica expressão: "Senhoras há uma mesa vaga!". Ora, vá catar coquinhos!! Senhora é a vó! Senhora é Ardi!

E Lucy se rindo no céu com seus diamantes.








quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Quando eu morrer me enterre na Lapinha

Como no último post falei de Madame Satã, me deu uma saudade da Lapa. Em junho quando fui ao Rio, hospedei-me em casa de queridas e preciosas amigas no Arpoador. Durante minhas meditações matutinas, acabava por por abaixo suas estantes de livros, já que fazia um baita frio, do tipo gaudério e não surtia praia. Pois foi exatamente dali que saquei uma compilação precisosa de textos de amantes e amados sobre o Rio. Um dos textos era do poeta, escritor e velhinho tudo de bom, Mario Lago. Sobre sua infancia, o internato, os piqueniques, sobre a Lapa, os lutadores e as prostitutas.
Nossa, como escrevia bem esse Mario Lago. A prosa conduzia a outro mundo, a outra batida, romântica, saudosa e doce, como os quitutes que ele confessou afanar do refeitório dos padrecos quando vinha da confissão. Embora se deliciasse relembrando o sabor dos referidos produtos de furto, era da Lapa que falava com mais paixão e vigor. Bem, das prostitutas que lá desfilavam também. Por seu histórico posterior, sabe-se que, como grande boemio, foi intenso aproveitar de todos os deleites que o bairro àquela época oferecia. 

Confesso que embora hoje a parada do bairro seja outra (ou talvez, na ciclicidade da vida, nem tanto), sempre fui muito feliz lá. Inclusive neste última passagem, foi lá que comemorei meu aniversário, no Mangue Seco, com muito chop, escondidinho, amizade e samba, não necessariamente nessa ordem. Em minha primeira incursão na Cidade Maravilhosa foi lá que fiquei, acampada no Circo Voador.
Era então ano de inauguração da Casa do Capoeira, gentilmente doado ao povo pelo louco do Cesar Maia e haviam capoeiras de mais de 17 países (sim, a capoeira, esporte genuinemente brasileiro, ainda na decáda passada, já havia trasnposto os continentes).
Sou apaixonada pelo Rio, embora pouco o tenha visitado (para o meu gosto) e particularmnete pela Lapa, pelas emanações profanas de cada paralelepípedo, cada parede, cada maison de rendez-vouz que lá se traveste de hotel.
É uma Babel no sentido lato da palavra. São milhares que lá se acotovelam em busca das mesmas coisas que há cem anos atrás. Ora, em busca das mesmas coisas que toda a humanidade busca desde que pipocou nesse mundo. É lugar pra se perder de si, embora nesses tempos, me sinta um pouco desconectada do frenesi outdoor preferindo um boteco mais tranquilo, com alcool de qualidade e boa musica, requisitos dos quais o Rio não se ressente.
Enfim, a Lapa é o máximo! Longe é o Grajaú!



"A Lapa acomoda-se no meio do velho centro do Rio: o Mangue (Cidade Nova), o Estácio, a Cinelândia, a Glória... Os Arcos da Lapa, antes chamados de Arcos da Carioca, são caminho dos bondes remanescentes que a modernidade precipitada do governador Carlos Lacerda condenou à saudade(...).Não se vive a Lapa num dia. Menos ainda, numa noite. A Lapa é histórica e imortal. Lapa de Madame Satã, dos anos moços de Mário Lago e Noel Rosa, de Pixinguinha e Ernesto Nazaré, Braguinha e Almirante."
(Luiz de Aquino)