segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Oroborus Feminino

Vou retomar o assunto.
Ele não me permite o abandono no passo que não consigo compreendê-lo.
E olha que penso, teorizo e comento, muito - muito mais do que deveria, creio eu.
Ocorre que toda vez que ele se apresenta, me fixo muito mais em meu assombro por, mais uma vez, me pegar desprevenida  no turbilhão da discussão, do que no assunto em si.
Ligar ou esperar que ligue?
Mandar e-mail? Não/sim?
E sexo? Talvez.

Na primeira? Na segunda (mas tem segunda sem sexo na primeira)?
Nenhuma das alternativas abaixo/Todas as alterantivas acima!!
É sério. Eu não acredito! Não acredito que isso ainda renda.
Não acredito, e tanto que não acredito que estou escrevendo sobre isso. Ok, entendeu né.
Nós mulheres ja fizemos de tudo: desde a revolta contra os espartilhos, a cruzada dos manjados sutiãs,  até a denuncia do assédio sexual e o cargo supremo  na diretoria das transnacionais.
Criamos os filhos sozinhas, somos os homens da casa, matamos os 12 trabalhos de Hércules num dia.
Mas ainda passamos incontaveis minutos debruçadas na torre, penteando o cabelo e pensando no telefonema, no torpedo, no twitter, no facebook e escambau e sim, no cavalo branco também (que não precisa, em absoluto, ser branco). E o que é pior:  na cabeça travando o diálogo tão velho quanto Eva (a qual, tenho por certo, foi  precurssora desta preocupação tão significativamente feminina: no dia em que viu o segundo homem do mundo, provavelmente pensou : humm, ofereço a maçã, ou espero que ele peça um pedaço ?
Enquanto ainda teorizamos e nos importamos com esse assunto, mantemos as coisas exatamente iguais, nos aprisionando num dialogo que somente é travado no mundo feminino.
Não creio que os homens pensem assim. Ou percam (ou invistam) tempo com esse assunto. Acredito que na bioquímica masculina a questão se apresenta muito mais em termos de aceleração rumo ao desafio da conquista do que propriamente afeiçoar-se ou não à dita cuja do momento.
Os homens estão no mesmo lugar que ocuparam quando Ardi ainda circulava pelo mundo. Um pouco sacudidos a bem da verdade, mas nós é que nos deslocamos, mudamos, aperfeiçoamos....e mesmo assim paramos quase no mesmo lugar.
Por favor, não me entenda mal. Não sou a favor de colocar a coisa como mundo das mulheres ou mundo dos homens, só acho que somos diferentes e nessas diferenças nos perdemos nos discursos e ações de gênero, perdendo o que de melhor podemos fazer que é entregarmo-nos, suave e tranquila doação de carne, de sentido, de querer, de afeto e encontro.
A prisão ao padrão esta em nós mulheres quando ao pretender a liquefação da contemporaneidade, contraditoriamente esperamos uma resposta antiga. Uma resposta individualizada. Uma resposta única, diferente, que corresponda à entrega.
Só que não há entregas. Se só podemos dar o que efetivamente for nosso, arrisco dizer que não nos temos!
Avançamos tanto para fora de nós mesmas que nos desencontramos de nós e a cada dia atendemos a expectativas que também estão fora de nós. Somos prisioneiras desta imagem holográfica de posturas e padrões cheia de significações tão estranhas. É o debate interminável, o nosso oroborus particular de gênero. Sempre recorrente, é o assunto serpente que devora a si mesmo. Se engole e se regorgita.
Mesmo cientes de que somos mais  do que jamais fomos.
Por que somos mulheres, porque é sexo, porque é desejo. Por que assusta, por que atrai. Porque deixamos as cavernas e alto das arvores faz tempo.
Por que ainda usamos sutiãs!

3 comentários:

  1. Sempre acompanhando seus escritos virtuais. Bem, acho a discussão ainda um pouco sexista...rsrsrs. Lembrei um filme do italiano Marco Ferreri, que marcou muito, nos anos 80 do século passado (rsrsrs). Lá, a proposta era transcender o sexismo, "Le futur est femme", aliás, o interessante, ele fez um filme com nome francês, embora, pesquisando, não lembro mais como é o áudio, francês ou italiano. Em italiano "Il futuro è donna" com as feiosas Hanna Schygulla & Ornella Muti.

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  2. beeem feias. sim, o discurso parece sexista a principio, mas isso não faz com que ele seja menos relevante ou esvaneça. sim, ainda discutimos a questão, sim ainda nos importamos.creio que muito mais pela incompreensão de nossas diferenças do que pelo que nos assemelha. e sim, o futuro é mulher, o futuro já esta ai. mas os homens de verdade fazem tanta falta! rsrsrs

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  3. Querida Bitta,

    Concordo com teus questionamentos. Achei sua súplica muita sincera e verdadeira, mas não me enxergo como o homem comum por você relatado. Entendo que o entendimento entre os sexos deve e pode ser mais fluido, para além da incomunicabilittè reinante.

    Há, dentre tantos, aqueles que partilham das mesmas angustias que você...

    Beijão,

    O Maltrapa

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