terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Aracy e o Mar






Mãe como você conseguia? Dar conta de filhos de férias, organização e limpeza da casa, trabalho, marido, comida? Nossa Senhora! E olhe lá, que tínhamos a ajuda da Aracy. Mulher negra maravilhosa, com nome de índia, meio metro de gente cujas  pequeninas e ágeis  mãos preparavam meu lanche da tarde, sempre delicioso. Como a risada encoberta da Aracy. Pequena Aracy que apanhava muito, volta e meia, de seu bêbado marido.  Aracy não conseguia dizer meu nome. Pra ela eu era a Beta. Nunca tinha visto o mar. Lembro como meu irmão e eu,  nos divertimos com seu assombro e falta de jeito ao vislumbrar o mar pela primeira vez. Foi numa estação intermediária, algo entre  verão e inverno, junto à plataforma de Tramandaí. O riso era nervoso: que coisa grande! Dá um medo na gente, Beta! Medo totalmente dissipado quando pisou na areia, com os pés descalços. Na minha mente ficou impressa até hoje a lembrança de Aracy, não a que sofria, apanhava, trabalhava. Mas aquela que,  feliz como criança, de blusa branca e sainha azul, girava e girava,  na beira da praia, em alegria  e êxtase, verdadeira   filha de Yemanjá que depois de muito tempo chegou em casa. 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

compostagem - o resultado


o fato é que o pote existe, ficou uma graça e efetivamente funciona! essa foi minha primeira coleta, após mais ou menos um ano e meio de uso. como o pote de minhocas é feito de barro, primeiro foi tratado, deixado submerso por uns dois dias para umedecer o barro. depois foi só acomodar um pouco de terra, o novelo de minhocas com a fauna característica (outros pequenos animais que junto com as minhocas praticam a fina arte de digerir o resíduo orgânico - cascudos, tatuzinhos, coisinhas minúsculas e invisíveis), algum resíduo inicial para elas terem o que comer, cobrir com folhas, varredura do jardim, grama aparada ou se nao tiver outra coisa, jornal picadinho.  e vai assim, alimentando todo dia, cuidando, observando. não pode estar muito seca, nem muito úmida. não pode colocar resíduo além da capacidade do pote. com o sistema do pote de minhocas a intenção é a  produção de um adubo seco, sem chorume. 



não posso dizer que foi simples. foi minha primeira experiência solo com compostagem. sempre tive perto de mim pessoas que, mais hábeis e conhecedoras que eu, eram gestores deste processo. foram meus instrutores. mas posso dizer que foi natural, muito como a vida: houveram momentos difíceis,  momentos de superação , de amadurecimento, até a estabilidade do sistema. aprendemos a nos conhecer e respeitar, minha composteira e eu. tenho consciência de que quão melhor a qualidade dos resíduos que nela eu dispensar, melhor a qualidade do composto que ela me dará em troca, que irá adubar a horta, as ervas acabando, novamente, na minha mesa, no meu corpo. colocado assim parece óbvio, mas na prática é a verdadeira revolução. e não ter de conviver com o desperdício, depositando fora de casa o resíduo mais rico que produzo. não contribuindo para o esgotamento do sistema público de tratamento de resíduos, não tem paralelo. não tratar vida como lixo, simples assim, difícil assim.




                                          primeira retirada de adubo - dezembro 2011





quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

compostagem - uma provocação

faço compostagem em casa e no trabalho. com minhocas. adoro-as. já comprei briga com minha antiga housemate por causa delas ( um dia mariana me encarou e seriamente disse que se visse mais uma minhoca dando banda pela casa, seriam elas ou ela - eu teria que escolher!) sorte que nem mariana nem as minhocas sairam de minha vida. por esta introdução, já não estranha mais que eu diga, confesse, que  tenho o maior carino por minha composteira. ok, por composteiras em geral, mas a minha em especial. ela nasceu do núcleo da salada mista, como  uma provocação, quando em um dia aparentemente normal na produtora , preocupados em compostar os residuos organicos, alexandre e eu debatíamos, e nos debatiamos contra a inércia, nossas opções de composteiras. à sugestão de que deveriamos compostar em um engradado plástico - corte seco : plástico? como assim plástico?- pirei! sendo  enfática, como diria fabiana, me apressei em vetar expressamente qualquer experiência em plastico ou qualquer outro polipropisomething. por princípios. imediatamente ele concordou comigo. primeiro passo, descolar qualquer recipiente que fosse de barro, madeira ou outro material organico. acontece que naquela época, o bar ocidente, no prédio ao lado, estava em reformas. certo que acharíamos, junto à preciosa caçamba  de detritos, acostada à calçada, a salvação de nossa lavoura.

obs.1 : gratos ao fiapo barth pela bela caixa de madeira que nos serviu valorosamente até quase desintegrar.

atendida a emergencia, passamos a uma composteira de nosso próprio design. nascia o compromisso de buscar um sistema que nos fosse adequado da mais ampla forma. iniciamos com a seleção de  material, voto facilmente unanime: seria de terracota. importante para a aeraçao do composto, se manteria mais fresquinha para as minhocas. alexandre encarregou-se do design da peça e juntos trabalhamos sua funcionalidade. a mim era importante que pudesse usa-lá na área de serviço de casa, próximo à cozinha e portanto, da origem dos residuos organicos, portanto nem pensar em algo monstrengoso ou que produzisse chorume. e o pote de minhocas, como resolvemos chamá-lo, nasceu com uma estética que sugere e referencia moebius. o proximo passo: a escolha do oleiro. importante que fosse artesanal. mas isso, por si, já é uma outra historia.




obs.2: para alexandre de freitas, designer e ecologista, entre tantas coisas, ver chaosecosmos.blogspot.com




quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Descoberta do Jardim

sempre tive meus vasinhos. desde criança. tive uma vez, uma coleção de avencas, em delicados e cuidados vasos. minha preciosa era uma vermelha com caule escuro, parecia uma mini arvore japonesa, copiada de um mangá ou saída de um kurosawa. toda a coleção, cerca de 11 ou 12 vasinhos, sofreu perdas irremediáveis proporcionadas por um louco cachorro com dor de barriga.
muito tempo passou desde as avencas. meu jardim atual, urbano e de apartamento, começou como sempre começam meus jardins: um acumulado de vasos, indivíduos de varias espécies, pedras e por ai vai. uma composteira e algumas sementes. várias doações. pois não é que assim, de brincadeira em brincadeira, de vaso em vaso, acabei por ter um jardim. e produtivo ! com colheita!

 primeiro de capochinhas, lindas flores comestíveis, fáceis de cultivar. se come a folha, a flor e a semente e são ótimas em saladas.
em seguida vieram hordas de ruculas, que semeadas sem critério por vários vasos, nasceram livres em quase todos os cantos do jardim.
agora já estou na segunda fase da colheita: tomates, de variados tamanhos e formas, nascidos de sementes dos tomates da feira da coolméia, garimpadas por uns anos. os primeiros pezinhos nasceram na calha. a calha é uma experiencia meio mítica, pelo menos pra mim, já que é pegar uma coisa que existe para um fim, dar um destino absurdamente inverso e ainda gerar vida que se come! beeeem, então a calha já estava no apartamento quando me mudei, já com as laterais fechadas e tudo. santa providencia!
a partir dai foi moleza: terra + sementes = rúculas + tomates. me apaixonei. instantânea e irremediavelmente pelo meu jardim urbano experimental. a meta é continuar plantando, se possível usando as próprias sementes misturadas com novas e ir beliscando, observando e aprendendo. e escrevendo sobre a descoberta, fazer um registro dessa atividade, seja para mim mesma, seja para alguém ai fora que se sinta estimulado pela experiencia.

os tomates estão vindo sem condução ou amarração até um bom tamanho e tem mais de uma variedade de tomate no mesmo espaço (na realidade não tenho bem certeza de quais variedades eu tenho. espero que tenha guardado do tomate pera, uma delicia amarela e pequena, em formato de pera, que nem sei se chama assim mesmo). não precisa nem dizer que são saborosos e as crianças se amarram em tirá-los do pé e comer direto. o primeiro grandão colhido virou uma caprese  divina.
as flores brancas da foto são flores das rúculas. enquanto tem flor deixo para as abelhas nativas. quando seca, corto pra tirar as sementes.



A tal da calha




domingo, 7 de março de 2010

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Tempo? Tem mais acabou...

Nossa, há quanto tempo não conseguia uma brecha pra sentar e colocar as caraminholas pra fora, que não fosse simplesmente trabalho.
Aliás, faz um tempo já que ando invocada com as questões do tempo. Que coisa mais fora de hora , não?
Nem tanto.
Ja ouviram falar da Ressonancia Schumann, investindo sobre todos nós? Ainda não? Mas que desinformação, que mal aproveitamento do tempo. Pois bem.
A tal da ressonancia, como nos explicou Leonardo Boff, em artigo publicado originalmente no Jornal do Brasil, em 05/mar/2004, foi nominada em homenagem a um físico alemão. "Winfried Otto Schumann constatou em 1952 que a Terra é cercada por uma campo eletromagnético poderoso que se forma entre o solo e a parte inferior da ionosfera, cerca de 100km acima de nós. Esse campo possui uma ressonância (dai chamar-se ressonância Schumann), mais ou menos constante, da ordem de 7,83 pulsações por segundo. Funciona como uma espécie de marca-passo, responsável pelo equilíbrio da biosfera, condição comum de todas as formas de vida. Verificou-se também que todos os vertebrados e o nosso cérebro são dotados da mesma frequência de 7,83Hz (hertz)."

A partir dai Leonardo Boff endossa a seguinte tese, não em muito compartilhada pela comunidade científica, mas que, enfim, determina que:
"Por milhares de anos as batidas do coração da Terra tinham essa freqüência de pulsações e a vida se desenrolava em relativo equilíbrio ecológico. Ocorre que a partir dos anos 80, e de forma mais acentuada a partir dos anos 90, a freqüência passou de 7,83 para 11 e para 13Hz por segundo. O coração da Terra disparou."
(...)
"Coincidentemente, desequilíbrios ecológicos se fizeram sentir: perturbações climáticas, maior atividade dos vulcões, crescimento de tensões e conflitos no mundo e aumento geral de comportamentos desviantes nas pessoas, entre outros. Devido à aceleração geral, a jornada de 24 horas, na verdade, é somente de 16 horas. Portanto, a percepção de que tudo está passando rápido demais não é ilusória, mas teria base real nesse transtorno da ressonância Schumann."

Teorias independentes, me debruço sobre a relatividade do tempo. Para mim, um dos efeitos/fatores mais impressonantes. É uma possibilidade (por falta de palavra melhor) que se choca contra nossa percepção humana tridimensional do tecido temporal.
São sensações/percepções que podem ser medidas no cotidiano.
O que dizer da passagem do tempo pra quem ja visitou ou mora no norte/nordeste do Brasil, Amazonas, Maranhão, Pará? A passagem do tempo lá parece ser muito diferente da passagem de tempo aqui do pampa. Lá o tempo é amazônico, definitivamente, parecendo haver mais horas no dia do que realmente há. Ao relógio, contudo, são as mesmas 24 horas. Impossível não?
E mesmo assim, limitada, nossa percepção  nos dá sinais de que o que vemos e contamos pelas horas do dia, não é bem assim. O que efetivamente nos indica que contamos a pasagem do tempo de forma incorreta ou incompleta. Que dizer ainda do fato de que hoje, num mesmo período de tempo, fazermos muito menos coisas do que há cinco anos? Será Schumann batendo à porta?

São muitas as peças pregadas por Cronos aos pobres mortais. Pelo menos ao mortais que renderam escravidão ao objeto, à coisificação da divindade: ao relógio. Cronos não perdoa esta subversão. haja vista a quantidade de gente louca, batendo biela por ai, totalmente fora do compasso.
Mas nem todos estão adorando o ídolo corporificado ao invés do verdadeiro deus.
Mulheres conectadas, por supuesto, com seu ciclo, com a pulsação da vida, são exatamente animais de fases que  atentas para as mudanças de fases da lua nas mudanças de seu próprio corpo e mente estão infalivelmente sincadas com  o tempo.
Outros, que ao viverem e trabalharem mais próximos do mundo natural, conseguem observar o tempo da vida e com ele dançar de forma tranquila, garantindo longevidade e qualidade de vida.
A comprensão do tempo que passa, do tempo que se gasta, mas não se aproveita, faz com que a finitude da vida torne uma irresponsabilidade que lidemos de forma tão leviana com esta premissa.
Vivendo e não vivendo, já que não nos sobra tempo, fazemos de nós inigualáveis zumbis, desmortos num tempo que não compreendemos, prestes a sermos devorados pelo Senhor do Tempo.
Certos estavam os Maias : tempo não é, nunca foi e nunca será dinheiro - tempo, tempo é arte!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

De gorilas e baleias

Meu processo evolucionário de despir-me da mulher gorila continua.
Agora trabalho arduamente para transformar-me em uma legítima e autêntica mulher baleia. Até faço parte de um grupo de baleias, que se reúne de forma caoticamente organizada, mais ou menos a cada 15 dias. Como somos modernas, temos baleias espalhadas por todo globo, em suas próprias rotas migratórias que não necessariamente obedecem à do grande grupo mas que com ele estão sempre conectadas. Temos baleias no cerrado brasileiro, baleias no velho mundo, baleias na garoa de São Paulo.
O nome escolhido para esta pequena e intensa confraria feminina causa espécie. Já me perguntaram diversas vezes se serão baleias porque todas são gordas? Hahahahaha. Como se importasse!
Mas respondo que não, não são gordas.
São lindas, amáveis, companheiras e operam pelo bem comum, por isso são baleias.
Fiquei sabendo que os cetáceos, baleias e golfinhos entre eles, cantam pela cura do planeta e pela manutenção do equilibrio (esta colocação faz parte da sessão acredite se quiser, por isso não me torre a paciência!). Dai que me ponho a pensar, assim, no inglório trabalho desses paquidermes marinhos.
Sabemos hoje que baleias como as orcas, topo de cadeia alimentar, encontram-se todas fortemente contaminadas por PCBs e outros venenos artificiais ou não, que a humanidade cria e despacha para o ambiente natural. Como o mar aceita todos os lixos, que indo a fundo não se tornam visíveis, sinceramente me preocupo com o destino dessas amigas baleias e penso na tremenda caridade que desenvolvem ainda se preocupando conosco.
Outra descoberta não menos alarmante é o fato de que as baleias (marinhas, não as amigas) estão surdas! Considerando a relevância da audição desses animais para a alimentação e procriação, pela manutenção das rotas migratórias, a significativa perda de mais de 50% da audição pode levar ao extermínio destes animais antes das causas mais diretas e presumíveis.
O que me faz lembrar da sequencia inicial do filme/livro O Guia do Mochileiro das Galaxias. Cansados de toda essa papagaiada humana, os golfinhos, frente à iminente destruição da Terra, resolvem fazer o que ja deveriam ter feito há tempos: se mandar!!
Ao menos em terra firme, a situação das baleias não está tão negra. Ou surda.
As baleias daqui continuam cumprindo com seu papel. Pelo menos em socorro uma das outras. E em auxilio das crias que arrisco dizer, agora são do grupo. E de forma alguma estão surdas!
Mas a introdução sobre as baleias veio, em realidade, para que eu apresentasse outra questão. No inicio deste mês foi a minha oportunidade de receber essa manada de cetáceas. Como a cada encontro uma de nós abre a casa, o coração e a cozinha, resolvi fazer o que de melhor uma baleia pode oferecer - ok, o quê de segundo melhor, pois estavamos em falta de kril : fez-se peixe então!!
Pra mim, ao menos, foi muito especial. Além de me envolver direta e exclusivamente na compra e confecção de todos os pratos: desde a feira orgânica do Bom Fim , sábado pela manhã - e só eu sei o sacrifício que foi sair da cama cedinho após a ótima noite de sexta, até a ida ao mercado público (baleias modernérrimas), para a compra das anchovitas e dos limões,até passar no super e dali sair a tiracolo com um saco de carvão e uma garrafa de Ypioca orgânica (em plena segunda-feira), foram vários momentos que culminaram com o fogo da churrasqueira e a caipirinha gelada. All by myself !! (sem a choradeira da música). E para receber minhas queridas e seus filhotes, que a seu turno, fizeram a alegria do meu pequeno baleio.
As baleias, por óbvio, responderam à altura meu carinho: devoraram, com carinho e muita classe, cada pedacinho de peixe, cada folhinha de salada, o chutney de laranjinha calcado no gengibre, com direito a chupar os olhinhos dos peixes e lamber os beiços depois. Grata queridas pelo amor baleistico devotado por cada uma. E mais, comprovando que de surdas tem é nada, cada uma se revezou entre o papel de contadora e o papel de ouvinte.
Mais um passo da minha jornada rumo à evolução de mim!
Se antes ja havia sacado fora as mãos da gorila, com essa, agora, tirei de vez a cabeça.
O mais hilário de tudo é que, quanto mais caminho em direção da evolução (da gorila pra baleia), mais retomo os antigos ritos : a transmutação pelo fogo, a celebração pela comida, a força pela união.
Nossos ancestrais deram seu primeiro passo em direção à humanidade ao dominar o fogo.
Hoje, dou meu primeiro passo rumo a uma nova humanidade, figurativamente dominando o fogo!
Nada mudou ou tudo mudou tanto que parou, novamente, no mesmo lugar?
Será a reinvenção da espécie?
Notaram que Dietrich parece a Maddona?
No meio do fogo cerrado, saco fora minha cabeça-gorila, coloco minha peruca e começo a nadar em direção ao grupo.
So long and thanks for all the fish!


">