quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Quando eu morrer me enterre na Lapinha

Como no último post falei de Madame Satã, me deu uma saudade da Lapa. Em junho quando fui ao Rio, hospedei-me em casa de queridas e preciosas amigas no Arpoador. Durante minhas meditações matutinas, acabava por por abaixo suas estantes de livros, já que fazia um baita frio, do tipo gaudério e não surtia praia. Pois foi exatamente dali que saquei uma compilação precisosa de textos de amantes e amados sobre o Rio. Um dos textos era do poeta, escritor e velhinho tudo de bom, Mario Lago. Sobre sua infancia, o internato, os piqueniques, sobre a Lapa, os lutadores e as prostitutas.
Nossa, como escrevia bem esse Mario Lago. A prosa conduzia a outro mundo, a outra batida, romântica, saudosa e doce, como os quitutes que ele confessou afanar do refeitório dos padrecos quando vinha da confissão. Embora se deliciasse relembrando o sabor dos referidos produtos de furto, era da Lapa que falava com mais paixão e vigor. Bem, das prostitutas que lá desfilavam também. Por seu histórico posterior, sabe-se que, como grande boemio, foi intenso aproveitar de todos os deleites que o bairro àquela época oferecia. 

Confesso que embora hoje a parada do bairro seja outra (ou talvez, na ciclicidade da vida, nem tanto), sempre fui muito feliz lá. Inclusive neste última passagem, foi lá que comemorei meu aniversário, no Mangue Seco, com muito chop, escondidinho, amizade e samba, não necessariamente nessa ordem. Em minha primeira incursão na Cidade Maravilhosa foi lá que fiquei, acampada no Circo Voador.
Era então ano de inauguração da Casa do Capoeira, gentilmente doado ao povo pelo louco do Cesar Maia e haviam capoeiras de mais de 17 países (sim, a capoeira, esporte genuinemente brasileiro, ainda na decáda passada, já havia trasnposto os continentes).
Sou apaixonada pelo Rio, embora pouco o tenha visitado (para o meu gosto) e particularmnete pela Lapa, pelas emanações profanas de cada paralelepípedo, cada parede, cada maison de rendez-vouz que lá se traveste de hotel.
É uma Babel no sentido lato da palavra. São milhares que lá se acotovelam em busca das mesmas coisas que há cem anos atrás. Ora, em busca das mesmas coisas que toda a humanidade busca desde que pipocou nesse mundo. É lugar pra se perder de si, embora nesses tempos, me sinta um pouco desconectada do frenesi outdoor preferindo um boteco mais tranquilo, com alcool de qualidade e boa musica, requisitos dos quais o Rio não se ressente.
Enfim, a Lapa é o máximo! Longe é o Grajaú!



"A Lapa acomoda-se no meio do velho centro do Rio: o Mangue (Cidade Nova), o Estácio, a Cinelândia, a Glória... Os Arcos da Lapa, antes chamados de Arcos da Carioca, são caminho dos bondes remanescentes que a modernidade precipitada do governador Carlos Lacerda condenou à saudade(...).Não se vive a Lapa num dia. Menos ainda, numa noite. A Lapa é histórica e imortal. Lapa de Madame Satã, dos anos moços de Mário Lago e Noel Rosa, de Pixinguinha e Ernesto Nazaré, Braguinha e Almirante."
(Luiz de Aquino)

Um comentário:

  1. Well, well, nem só de Amélias, MUlheres de Verdade, vive um Mario Lago, sim, ele é um dos compositores...e com construções e desconstruções a bordo, nem sempre o mito da mulher prestativa nos abandona! Seja na Lapa, seja na Ladeira da Caldas Junior, que uma vez ostentou semelhantes palelepípedos portugueses, cada mulher carrega sua cruz...de puta, de princesa, de sem vergonha ou maternal, leva-se tudo no olhar, a depender do momento lunar e do objeto de desejo!

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