terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Aracy e o Mar






Mãe como você conseguia? Dar conta de filhos de férias, organização e limpeza da casa, trabalho, marido, comida? Nossa Senhora! E olhe lá, que tínhamos a ajuda da Aracy. Mulher negra maravilhosa, com nome de índia, meio metro de gente cujas  pequeninas e ágeis  mãos preparavam meu lanche da tarde, sempre delicioso. Como a risada encoberta da Aracy. Pequena Aracy que apanhava muito, volta e meia, de seu bêbado marido.  Aracy não conseguia dizer meu nome. Pra ela eu era a Beta. Nunca tinha visto o mar. Lembro como meu irmão e eu,  nos divertimos com seu assombro e falta de jeito ao vislumbrar o mar pela primeira vez. Foi numa estação intermediária, algo entre  verão e inverno, junto à plataforma de Tramandaí. O riso era nervoso: que coisa grande! Dá um medo na gente, Beta! Medo totalmente dissipado quando pisou na areia, com os pés descalços. Na minha mente ficou impressa até hoje a lembrança de Aracy, não a que sofria, apanhava, trabalhava. Mas aquela que,  feliz como criança, de blusa branca e sainha azul, girava e girava,  na beira da praia, em alegria  e êxtase, verdadeira   filha de Yemanjá que depois de muito tempo chegou em casa. 

3 comentários:

  1. De uma beleza e simplicidade, que emociona ao final do texto.

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  2. Grata pela leitura e comentário, Jisnu.
    Pedaço emocionado de minha memória.

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    1. Não agradeça, apenas produza mais textos como estes e será um deleite acompanhar sua memória.

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